quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

é como se quase fosse
é uma alegria por quase ir
alegria porque se sabe da tristeza de empacar
cavalo teimoso e exausto no meio do mato
imagina, adivinha esse outro lado
chegará?
será que há como se sair de uma coisa assim de vez?
ficamos inundados da coisa e parece que não é só olhar pra ver
desenha em pensamento campos floridos, bosques, pessoas, crianças, palavras
e também o outro lado da vida que é burocrático por excelência
mas que também vai se encaixando nessa imagem meio onírica de antes
: é estado de espírito
nessas horas dizia-se besta besta besta
não haveria palavra mais adequada na sua linguagem
e parece que era por aí que se encontrava
não de se encontrar de corpo e alma
mas de achar espaço, caminho, saída, ar
se quase ia
sentia-se indo
besta como um cavalo agalopado
enveredando caminhos grandes
experimentando sentimentos como se voasse pipa
e supunha que haveria de se chegar
e precisava, quase que religiosamente
repetir que sim que sim que sim
para que acreditasse em seu próprio verbo
que era um corpo inteiro
e ainda o estava descobrindo

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

pressentia e sentia-se, vezenquando, osso roído
momento assim inexplicável
a não ser por metáfora como essa
e olhe lá
sem sentido que batia na porta do mundo

tinham momentos em que um cão
roía um osso até o fim
e era como ela esse osso
e nem sequer era um coitado dum osso roído
era um osso roído e muito digno
sem mistérios como um osso cru, revelado, exposto, duro, um átomo

e não há nada mais difícil do que lidar com uma coisa sem mistérios

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

rio é o contrário de foto

na minha casa tem um rio.
tudo em volta está deserto. no meio tem um rio, um rio caudaloso, exagero, um rio normal, com uma cachoeirinha. mentira. não tem rio, não tem cachoeira. tem um monte de pedrinhas contornando o deserto, tem um monte de deserto contornando as pedrinhas, o rio, a cachoeira. é um nada cheio de coisas. quando é domingo o deserto absorve as coisas. e fica um nada com tudo dentro. fica tudo muito apertadinho, espremido, entalado. esse rio nasce e deságua de mim pra mim, não há geografia tampouco geologia física matemática tecnologia biologia feitiçaria que desvende um rio desses por inteiro. rio é uma coisa que não tem formato, espessura, diâmetro, rio é o contrário de foto. e quase posso supor ele se atravessando pelo blue do arco irís para reaparecer shining yellow no sonho que tenho sempre de olhos abertos.