quarta-feira, 9 de outubro de 2013

de onde nascem as coisas que crescem

para tauã 

eram noites despreocupadas em que você tocava violão e eu chegava perto para ouvir o que era mesmo que você estava tocando e acabava ficando, ouvindo, cantando junto, brincando de adivinhar logo nos primeiros acordes, sugerindo pout-pourris: éramos irmãos nesse exato momento. digo isso porque nunca foi tão bom ser irmã nessas (poucas) ocasiões em que alguma coisa inesperada brilhava devagarinho e assustadoramente por dentro quando estávamos juntos por qualquer motivo não-planejado, quando não era hora de nada, tempo de nada importante ou desimportante, só ficar ali, ir ficando.
sinto que nos captamos muito silenciosamente, sabe? nós, que somos do reino das palavras. aprendemos depois de muita dureza que é possível amar no silêncio. nós, que sempre vivemos enchafurdados em conteúdos demais, informações demais, sentimentos demais, explosões e implosões; nós nos tornamos silenciosamente amante das palavras que nos servem.
agora, 24 anos depois, percebo quem nos tornamos no meio daqueles emaranhados, quem nos sobressaímos diante de tantos enlinhamentos. e então me deu uma alegria de escrever isso aqui pra dizer que agora reconheço a você, meu irmão, com a particularidade que devo te reconhecer, como uma pessoa que se torna pessoa perto e longe da gente, independentemente de corpo, sangue ou veia, como uma grande pessoa desse mundo igualmente grande que tenho o prazer de conhecer.