domingo, 18 de dezembro de 2011

l'amour

quero dizer que
não tem esse dia
que não tenha lua
no céu do meu peito
coisas grandes
frágeis
fortes
iluminadas
eu vivo:
não sei onde assinei

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

amor & mistério

sobre esse olhar que me remete a um tão bonito não sei se lugar
não sei se momento não sei que coisa
que nem sei bem se de fato existiu, mas que de alguma forma
se presentifica quando me olhas desse jeito: jeitinho.
é sobre esse flash de olhar que vez ou outra me diriges,
me captas, me flechas num instante-já,
me levando pra um aonde que desconheço, mas vou sorrindo.
sorrio sem lábios, sorrio de dentro pra fora, puro amor & mistério, que desconfio:
como um coração pode ser tão certeiro com um outro?
esse coração-olhar que me toma por inteiro: teu olhar me diz de mim.

domingo, 9 de outubro de 2011

domingo é o fim

domingo é o fim.
mesmo que não haja início. mesmo que antes do fim não tenha nada e depois do fim também não. domingo te (me) lembra do fim. que tudo é finito e perece. não importa quantos esforços forem feitos, quantas lágrimas rolarem, quantos sorrisos, e a lista segue grande. tudo acaba e por isso a vida urge (p.s.: a vida bem vivida). na minha cabeça letreiros piscam me endomingando: de quantas coisas nos arrependeremos! quantas outras gostaríamos de eternizar! domingo é cruela cruel, honey. carne viva demais para ser ignorado, queima que é uma beleza. é bem verdade que com um certo jeitinho e um pouco de sorte um domingo pode ser um dia de reflexões muy buenas e criativas, mas se fosse pra escolher, preferia deixá-las rolarem numa quarta-feira qualquer. domingo bom é domingo nos teus braços até o dia virar segunda (quando estou só, fica mais difícil acreditar que a segunda chegará). mas o domingo não perdoa, beibe, deseje o que desejar, domingo é o que é.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

do que pode ser falado

arde
não é dentro
é fora
não é fora
é dentro
é entre fora e dentro
é dentro e fora
onde começou ninguém sabe
se alastra de um jeito
o principal é que arde
se é que não é queima
se é que não seria explode
o principal é que sinto?
esse vago e esse preciso
que não tem como destino ser existência palavreada, pelo visto
em sua rebeldia quer ser apenas grande, inteiro, possível:
e não se fala mais nisso.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

domingo, 28 de agosto de 2011

seu desejo é uma ordem (ou: sobre uma mulher solícita)

chupo mordo lambo faço refaço até com certa timidez ousadia às vezes viro desviro morro água gostosa gostoso geme sorrio é só se concentrar desces subo prendo e fico que delícia o tempo não tem tempo noite virando manhã a cama é pequena para nós depois as pernas tremem o coração escola de samba o corpo estirado uma chuva de suor teu pau assim caidinho aquela preguiça dos deuses (vem, vem quando quiser - mos).

domingo, 21 de agosto de 2011

quando o buraco é mais embaixo

quando o buraco é um pouco mais embaixo,
e tentam a todo tempo enquadrá-lo ao que não é: beira.
ou quando o buraco mais embaixo é tão mais embaixo que de tão mais embaixo perdeu a referência de existência e virou apenas escuro.
buraco escuro é a coisa menos visível e mais sentível que (des)conheço:
toda falta tem muita presença.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

como morrer de saudade

ao abrir os olhos pela manhã
ao fechar os olhos de noitinha
ao longo do dia em momentos os mais distintos: na hora de fazer xixi, por exemplo
ou quando dá aquela coceirinha no ouvido
também ao lembrar de cortar as unhas dos pés
e sempre sempre que estalo os dedos, um por um, com minuciosa precisão
para não morrer de saudade é preciso mais cabeça que coração:
só sei morrer de saudade.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

faz sol, faz chuva
tempestade em copo d'água
lua de cortar cabelo
amor que não tem gps
tem uma coisa que é certa: não engulo carne de pescoço
- tenho apetite emocional.

ser uma mulher entre mulheres
homens
hímens
humores
não é questão hormonal
menstrual
ancestral
apenas
questão central:
aonde vou parar.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

na dúvida, respire

te falo por todos os poros das coisas que deverias querer saber
calada, te olhando, de costas, ausente, com mil palavras:
me canso
minha sina é respirar
aprendi a ser gente demais.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

não me peça paciência

não me peça paciência, mama
não é questão de paciência
não é sequer questão
é limite

o que procuras tanto, inutilmente?
o que nunca, nunquinha irás encontrar, apenas vestígios
mas você é mesmo muito grande para coisa tão pequena como esta: aceitar
não me importo que cave seus ossos pele carne mente espírito alma e o diabo a quatro
mas que me deixe em paz
sou deveras humana para tantas escavações a céu aberto sem garantia nenhuma que não seja: sofrer
essa causa não é minha (ou: não quero brincar na sua gangorra)
meu coração já anda montanha-russa com looping demais.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

sobre andar

debrucei-me sobre aquela varanda de luz amarelo-azulada
não que eu ignorasse aquela mesa farta, aquele cheirinho de manjericão, tua perna colada na minha, aquele vento forte que balançava meus desacostumados cabelos longos
olhei pro de fora: era mar (dentro era amar)
foi depois de ver o mar que vi skates, patinetes, carros, bicicletas, pranchas de surfe, patins, motocicletas, pés, muletas, velocípedes
parece claro: é sobre andar, que falo
me pego pensando sobre mãos, contramãos, esquinas, freios, highways
penso tanto nesse andar que agora aperreia
para um depois, quem sabe, acaricia
preciso aprender nova forma de andar? apenas tocar aquela a qual pertenço? (mais do que me aprisiona)
também falo sobre sobre uma espécie de geografia pessoal, esse por onde andar
coração que dá pistas, sigo caminhos e entrelinhas, tateio mais do que piso
sobretudo respiro muito
vez em quando espirro
caio bastante
: tô no caminho do caminho
mas não é procura
é mais fluxo, espinha, linha
tenho uma coisa em mim que fica - não é que fica: tenho uma coisa em mim que é entre visão e audição, entre sorriso e lágrima
acho que é a maior emoção que sinto
ela me faz parir: mudanças
- tá frio aqui!, tua voz me chama
concordo contigo, com palavras, gestos, corpo inteiro
me dás um cheiro quentinho naquele canto miúdo entre o nariz e a boca (é imenso)
é sobre pisar fundo no que pulsa, amor

quarta-feira, 8 de junho de 2011

mi casa, su casa 2

que coisa mais clichê dizer isso, mas:
você tem sido a minha casa.
onde conheço e desconheço cada canto
e me sinto à vontade de ali estar.
"você" implica seu corpo, sua linguagem, seu jeito de cruzar as pernas, o café quentinho, o riso de canto de boca, a hora do seu cigarro, o amor que a gente compartilha em gestos, lençóis, canções, linhas, entrelinhas.
você tem sido minha casa, ainda que eu me surpreenda tanto com você. é que se sentir em casa, como eu digo, não é uma espécie de estabilidade rotineira ou previsibilidade positiva. falo além: quando estou contigo me sinto em casa, pois é em (e com) você onde caibo mais confortavelmente, onde sinto que deveria estar: eu casa, tu casas.

domingo, 5 de junho de 2011

mi casa, su casa

amo como quem ama uma casa muito forte
mi casa, su casa
casa que quando escorrega por entre as escadas
me carrega: correnteza, corrimão, rolimã
e eu vou toda me batendo atrás, enlinhada, amarrada, incrustada
emaranhado de emoções que essa casa me remonta
faz parecer olho de furacão
mas na verdade é rabo de onda